segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Uma fada no Carnaval -


Uma fada no Carnaval


A fadinha Fafá não gostava de viver na Floresta dos Encantos pois todas as fadas novas tinham mudado de profissão. Como não tinha com quem brincar, pôs-se a sonhar com uma terra cheia de gente, principalmente de meninos da sua idade.
            Quando chegou o Carnaval, pegou na varinha de condão e foi até à cidade, onde havia festas animadas, desfiles, bailes. Nesse dia ninguém estranharia o seu chapéu em bico e o vestido feito de raios de luar. Foi ter à rua principal, onde passavam carros enfeitados de flores e a música tocava, Viu gente mascarada de pirata, de esqueleto, de urso. No Carnaval, nada fica mal. Atiraram-lhe logo papelinhos e serpentinas. Pregaram-lhe partidas. Convidaram-na para dançar.
            — Emprestas-me a tua varinha para eu fingir que tenho uma cana de pesca? — pediu um garoto com trajo de pescador, que estava à beira do pequeno lago. A Fafá emprestou, dizendo:


 Varinha, varinha,varinha de condão,
faz saltar do lago já um tubarão.
  
            Logo um peixe enorme, para espanto de todos, se pôs a pular como se fosse puxado por uma linha invisível.
            A fada e os novos amigos foram andando. Até que chegaram a uma jardim. Aí, uma rapariga com um tambor pediu-lhe:
            — Emprestas-me a tua varinha? Perdi o pau com que tocava.
            A Fafá emprestou e disse:

 Varinha, varinha,varinha de condão,
põe todos os pássaros a cantar uma canção.



            Surgiram aves de todas as bandas. Mal a varinha de condão se ergueu, um canto maravilhoso ecoou pelos ares, acompanhando o ritmo do tambor.
            Ora no meio da multidão estava um ladrão que aproveitava a barafunda para rapinar tudo o que viesse de valor. Já roubara três relógios, dois fios, uma pulseira, sete carteiras. Tinha seguido a fada e assistira a tudo.
            “A varinha parece mesmo mágica”, disse para os seus botões.
            “Com ela vou fazer um roubo de arromba…”
            Num gesto rápido, arrebatou a varinha e correu até o multibanco mais próximo. Aquelas máquinas cheias de dinheiro são muito difíceis de rebentar. Já tinha tentado isso duas vezes, sem sorte nenhuma. Mas com magia não ia custar nada.
            Entusiasmado, tocou com a varinha de condão na máquina e declarou:



 Varinha, varinha, varinha de condão,
 bate com força sem compaixão.



            Só que a varinha de condão, em vez de estourar com a maquineta, espalhando as notas pelo ar, começou zumba, zumba, a dar uma sova em quem assim falava.
            — Pára! — gritava o homem — Pára!
            Quanto mais berrava e fugia mais a varinha de condão batia. Bem correu a fada atrás do mariola mas tropeçou, pois só estava habituada a voar. Um rapaz vestido de índio lançou-se atrás dele mas embateu na Menina do Capuchinho Vermelho. Caíram os dois. Nem o Super-Homem o conseguiu alcançar.
            Para ver se tinha paz, o ladrão entrou na primeira porta que viu escancarada. Era a da esquadra da polícia.
            — Metam-me na prisão! Prendam-me já! — suplicou ele, achando que só assim conseguia escapar à malvada varinha de condão.
            Os polícias, que andavam à procura dele, não hesitaram. Nesse momento, a varinha de condão caiu ao chão e rebolou até à rua.
            Rebolou por largos e avenidas, por ruelas escondidas. Por passeios, por calçadas e praças ajardinadas. Onde estará agora?
            A fada bem gostava de adivinhar, mas perdeu o condão. Já não faz magias.
            Talvez tu, que me lês, encontres a varinha de condão. Que lhe vais pedir?
            Diz alto, para nós ouvirmos:


 Varinha, varinha, varinha de condão....

            Mas pensa bem antes de formulares o teu desejo.



Luísa Ducla Soares
O Livro das Datas
Civilização Editora

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